A Justiça Eleitoral cassou, nesta sexta-feira (14), o mandato do vereador Fagner de Matos Gomes, conhecido como Faguinho (PP), presidente da Câmara Municipal de São Luiz do Anauá, município ao sul de Roraima. Ele é acusado de compra de votos por meio de pagamentos ilegais durante a campanha de 2024. A decisão, de primeira instância, ainda cabe recurso.
Além da cassação do mandato, a juíza Rafaella Holanda Silveira também declarou Faguinho inelegível pelos próximos oito anos. A ação foi movida pelo Ministério Público Eleitoral (MPE) e tramita na 4ª Zona Eleitoral de São Luiz.
Em nota, Faguinho afirmou respeitar a decisão, mas discordar "enfaticamente do seu teor". Ele garantiu que irá recorrer para "evidenciar a regularidade da conduta do candidato na campanha eleitoral".
Interceptações revelam compra de votos
A denúncia que levou à cassação do mandato de Faguinho partiu de um ex-candidato a vereador, Roberto da Rocha Silva, conhecido como Curió (PP), que não foi eleito no pleito de 2024. O processo teve como principal base provas obtidas pela Polícia Federal (PF) em uma operação realizada em 3 de outubro de 2024, às vésperas da eleição.
Segundo a investigação, conversas interceptadas apontam que Valdênia Soares, esposa de Faguinho, organizava listas de eleitores, distribuía dinheiro para a prática de "boca de urna" e providenciava transporte para eleitores. Em uma das mensagens, o vereador sugeriu pagamentos diretos:
> "Dá 'duzentinho' para cada um que é para alegrar, que é para despesa", disse Faguinho à esposa, em conversa por WhatsApp.
Durante uma abordagem, a PF encontrou no carro de um amigo pessoal do vereador materiais de campanha, envelopes bancários e uma quantia de R$ 250 em cédulas de R$ 50. O amigo afirmou que o veículo pertencia a Faguinho e que o dinheiro era de uma de suas empresas.
Os agentes solicitaram que Faguinho os levasse até sua casa, onde encontraram Valdênia Soares e diversas cópias de títulos de eleitores, incluindo documentos de indígenas da comunidade Waiwai. A esposa do vereador entregou seu celular aos investigadores, que identificaram mensagens organizando pagamentos por votos.
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Faguinho (PP) e a esposa, Valdênia Matos, em publicação nas redes sociais — Foto: Reprodução/Instagram/vereadorfaguinho85 |
Em um dos diálogos, Valdênia relatou que uma eleitora não havia recebido o dinheiro prometido:
> Valdênia: "A [eleitora] mandou mensagem dizendo que esqueceram de fazer o pix dela."
Faguinho: "Pede o pix então, faltou ela. Fala para [assessora] fazer pra ela."
Além disso, as investigações mostram que uma lista chamada "Lista da Leila" foi organizada para distribuir valores a eleitores. Em outra mensagem, Faguinho afirmou:
> "Pode empurrar esse dinheiro todinho na Leila, isso é voto seguro."
O Ministério Público argumentou que as mensagens não deixam margem para interpretações descontextualizadas.
> "As expressões repetidamente utilizadas, como ‘BU’ e ‘BUzinha’ — evidentemente em referência à boca de urna —, ‘trezentinho’, e até mesmo a peculiar menção a valores para 'alegrar' eleitores, demonstram um padrão de repasses financeiros para influenciar votos", diz o documento.
Apesar das provas, a defesa de Faguinho não contestou o conteúdo das conversas, alegando apenas que os diálogos estavam descontextualizados.
Primeiro mandato e apoio político
Este é o primeiro mandato de Faguinho e dos demais membros da mesa diretora da Câmara de São Luiz do Anauá. O vereador, de 39 anos, declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a ocupação de empresário e um patrimônio de R$ 520 mil. Ele tem ensino médio completo.
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Posse da mesa diretora e do prefeito de São Luiz do Anauá, município ao Sul de Roraima — Foto: Divulgação |
Faguinho foi eleito presidente da Câmara no dia 1º de janeiro e, nas redes sociais, publicou vídeos comemorando a posse, referindo-se à mesa diretora como "O G5". Durante a campanha de 2024, contou com o apoio do governador de Roraima, Antonio Denarium (PP).
Fonte: G1
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